OS TAMBORES DA RESISTENCIA

Por Gilberto Mauro

A Intolerância e Desrespeito às Religiões de Matrizes Africanas

Precisamos entrar em um debate cada vez mais preocupante dentro da sociedade  brasileira nos últimos anos, a Intolerância religiosa. E em particular o desrespeito religiões de Matriz africana por seitas ou indivíduos obcecados pelo fanatismo fundamentalista, notadamente certos ramos do pentecostalismo.

Apesar de sempre estarem em situação à margem da sociedade, atualmente as invasões e violências que vêm sendo submetidas aos praticantes de religiões de matriz africanas se intensificaram, numa clara demonstração de extrema intolerância. Os ataques aos cultos de Candomblé, Umbanda, Quimbanda, Congado,

Tambor de Mina ou qualquer manifestação que não sejam as deles, têm que ser enfrentados com muita força pela sociedade. Os ataques vêm se intensificando todos os dias. A ação midiática via rádios, tvs, jornais ou redes sociais tem sido uma peça chave no aguçamento deste fanatismo e alienação. O mais grave disto, é que estes meios de comunicação são concessões públicas, tem a responsabilidade de transmitir educação e conscientização, porém, o estado, devido a enorme pressão econômica, não os fiscaliza. Não se trata de censura, mas a aplicação da lei que os regulamenta, pois estes, como instrumentos influenciadores de consciências, vêm servindo como disseminadores da intolerância, ódio e violência, desde idosos, jovens e crianças em todo o país as mais covardes infâmias contra aos que professam cultos que não são os seus, ou seja, das igrejas pentecostais que produzem tais programas.

Enfatizamos que estas práticas geraram e geram conflitos e guerras fratricidas na

Humanidade. O fundamentalismo, o fanatismo, o preconceito, o racismo e todas as ações antissociais de determinados agrupamentos e mesmo nações, impedem que se desenvolva uma convivência fraterna entre os seres humanos.

A Música

Não se pode pensar na Música sem mirarmos para o continente Africano. Este é o

passo mais importante para compreendermos a Música brasileira e mundial. Para ilustrar o nível de obscurantismo que estamos vivendo, em setembro de 2019, alunos evangélicos da Escola de Música da UFRJ se recusaram a cantar composições de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), o qual aqui dispensa qualquer apresentação, por acharem que algumas de suas canções “fazem reverência a um demônio de religiões de origem africanas”. Como classificar tamanha ignorância e obscurantismo?

A musicalidade é uma presença essencial em todas as manifestações religiosas. Mas, em nossa terra, são os tambores que são perseguidos desde sempre. E hoje estes fanáticos passaram da ação midiática aos recursos de ataques físicos e destruição das casas religiosas. Mas os tambores sempre resistirão, porque fazem parte da mais profunda alma brasileira. Este fanatismo religioso, jamais.

Sem Memória, não há Resistência!

Todo poder autoritário e intolerante sempre tem como mira, a destruição da

educação e da cultura. Afinal, são estas as áreas que nos dão entendimento, consciência e tolerância. São as áreas em que a diversidade de pensamentos, manifestações são aceitas e acolhidas. Mas sobretudo existe um fator que a

cultura dá. É o pertencimento. E o pertencimento se tem pela construção da memória. Memórias afetivas, memórias de origens. E sem memória, não há resistência.

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