Por que o caminho do sindicato?

Por Vera PAPE PAPE, atual presidenta do Sindicato dos Músicos Profissionais de MG.

Somos trabalhadores músicos, operários desta magnífica arte. Do ponto de vista profissional, nos encontramos em algum pedaço de terra “invisível”. Nos meus 34 anos de profissão, flautista formada pela Escola de Música da UFMG e com licença em Ciências da Educação na Universidade Paris 10, raras foram as vezes onde tive o prazer de assinar um contrato e ser reconhecida enquanto trabalhadora com os seus respectivos direitos e deveres. Ter direito a aposentadoria, FGTS, licença maternidade, férias, estar coberto por um seguro e adicional noturno quando do deslocamento para outras cidades com a finalidade de tocar etc. É desta “invisibilidade” à qual me refiro. Estamos à margem. Ousaria dizer que 90% da categoria desempenha a sua profissão sem a devida formalização, sem os devidos direitos respeitados. Vivemos um quadro sistêmico de sonegação fiscal e de direitos. Do ponto de vista das condições de trabalho, sofremos com todo o tipo de inadequações que vão desde uma iluminação inadequada à leitura de partituras, passando pela sonorização, ora posicionada diretamente de encontro aos nossos ouvidos, ora insuficiente. Quantos bares, restaurantes, onde é comum assistir o (s) músico (s) tocando bem ao lado dos engradados de cerveja, chega a ser caricatural. Não nos faltam problemas de saúde de todo o tipo: musculares, tendões, postura, hérnia de disco e depressão, entre outros. Como viver plenamente se não sabemos como ganharemos o nosso pão no dia de amanhã? A precariedade é a nota!

Este quadro vivido por mim assim como boa parte de meus colegas é a fonte de minha indignação, é o motivo que me levou a querer modificar esta dura e injusta realidade.

Acredito, sim, que os Sindicatos são a ferramenta por excelência de luta do trabalhador. A arte e, no nosso caso, a música, tem uma importância crucial em nossa sociedade, estando presente em todas as esferas da vida humana. Fazemos música desde a época das cavernas, muito tempo antes de imaginarmos escrever. No Brasil, a nossa música é conhecida e reconhecida como uma das mais ricas existentes no mundo, então, o que se passa no fato de sermos tantos e tão pouco valorizados?

Como apenas lamentar-se sobre a situação não é bem minha forma de interagir com este mundo, há 5 anos me filiei ao Sindicato dos Músicos Profissionais de MG. Após a minha sindicalização, esperei ansiosamente a chamada para Assembleias Gerais, enfim, reuniões onde eu, quiçá, pudesse ajudar em algo. Esta chamada nunca veio. Entendi que alguma coisa não estava funcionando. Entendi que o Sindicato da época sofria de um certo desligamento de sua base e, claro, da realidade vivida por nós. Foi o ponto de partida, tendo como objetivo a valorização do ofício de músico e o Sindicato é peça chave nesta construção. Para que isto ocorra, em primeiro lugar, é necessário que o músico se reconheça enquanto categoria, classe: categoria trabalhador músico. Outro passo é fazer contato com os mais diversos nichos musicais existentes de tal maneira a termos um retrato, o mais fiel possível, dos problemas existentes e de suas especificidades. Em nossa diretoria há músicos que tocam na noite, que gravam, que fazem parte do coral lírico do estado, da Sinfônica, afora que, na sua maioria, professores também o são. Todos atuantes! E ainda precisamos sublinhar o papel relevante do interior. Nosso Sindicato tem base estadual e é de primeira importância estarmos presentes nas discussões e elaborações de estratégias conjuntas que visem a melhoria da situação de trabalho. Estarmos presentes na elaboração de políticas públicas que mirem em um melhor e mais democrático escoamento da produção musical deste Estado faz-se necessário.

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