Foto: Paulo Lacerda.

Vida longa à Orquestra Sinfônica de Minas Gerais

Por Sandra Alves - flautista Presidente da AMOS-MG

Em 1977, tanto eu quanto a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais fizemos nossa estreia na vida.

A Orquestra, criada em 1976, pela Lei Estadual 6.862, por iniciativa do governador Aureliano Chaves teve seu concerto inaugural realizado em 16 de setembro de 1977, com regência do maestro alemão Wolfang Groth, quando apresentou Villa-Lobos, Mozart e Ravel.

Eu, nascida em 11 de Fevereiro em uma família de músicos militares, vivi desde cedo uma rotina marcada pela música. O sonho de tocar na Sinfônica de Minas foi sendo construído dia a dia no meu coração — e muito disso devo ao meu pai. Eu costumava acompanhá-lo aos concertos no Teatro do Palácio das Artes, e em meio a solos de Bolero, de Ravel, de Daphnis et Chloé e Mozart, ouvia dele, com brilho nos olhos: “Um dia, você também estará ali.”

Segui o caminho tradicional de uma estudante de música: muito solfejo, ditado, sonoridade, escala e etc… Estudei no CMI, no CFM; graduei-me em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde também me especializei e concluí o mestrado. Muitos anos se passaram, e hoje sou musicista efetiva da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais — uma instituição que segue sendo tradição e referência e é desde 2013 reconhecida como patrimônio histórico e cultural do Estado de Minas Gerais.

Estar na Sinfônica é o resultado de uma vida inteira de dedicação, de construção e direcionamento de ideais e valores, de investimentos financeiros, emocionais e de tempo.

E eu não estou sozinha. A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais é formada por músicos incríveis — talentosos, dedicados — que, ao longo de suas vidas, investiram tempo, suor e coração para oferecer o melhor de si nesse espaço musical coletivo que é uma orquestra.

Estar dentro de uma orquestra é fazer parte de uma construção conjunta com infinitas variações e possibilidades. Seja fazendo um solo, acompanhando uma melodia, fazendo um contracanto, sustentando a base harmônica, preparando uma modulação, marcando o contratempo e a pulsação — tudo se funde, se mescla e se transforma em movimento, em vibração.

Cada músico, cada naipe, tem um papel essencial. Todos formam uma teia sonora que brinca com os sons, entrelaça vozes e cria um conjunto harmônico, potente e profundamente comunicativo. A música, também em uma orquestra, é linguagem: os músicos conversam entre si, entre seus naipes e com o público — expressando o ser e o sentir em sua forma mais elevada.

Mas é preciso dizer que nem tudo são flores. Cada músico, como qualquer ser humano, enfrenta seus próprios dilemas — problemas pessoais, questões emocionais, dificuldades financeiras. Dentro da orquestra, também lidamos com desafios administrativos, estruturais, de agenda, de carreira, salariais e, por vezes, com a própria ameaça à sobrevivência da instituição.

Mas, eu te convido a sentar-se na plateia da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Nos ouça e sinta que nada disso faz parte da mistura de sons que vai invadir a sua alma. No palco, nossa orquestra cresce, explode em som e emociona. Transforma-se em um mar que inunda a alma, que tira o fôlego, levanta da cadeira e faz suspirar. Um mar que também nos inunda enquanto tocamos e que faz tudo ter sentido e valer a pena.

Em tempos de automação, de tecnologia avançada e de crescente impessoalidade, o trabalho de uma orquestra sinfônica nos lembra que a alma existe. Que a música é essencial para que a alma não morra. Que sentir é fundamental para a sobrevivência humana.

Uma orquestra sinfônica existe para lembrar que música não é artigo de decoração. Música é essencial para a vida. Não apenas para os músicos que dela vivem, mas para todos nós que desejamos uma vida que ainda possa ser bela, poética, significativa e humana.

Vida longa à Orquestra Sinfônica de Minas Gerais! Que ela tenha o reconhecimento que merece — do poder público e da sociedade. Que esse reconhecimento se reflita em melhores condições de trabalho, valorização da carreira e garantia da sua existência. Porque seu valor para Minas Gerais — e para o Brasil — é imensurável.

 Sandra Alves - flautista

Presidente da AMOS-MG - Associação dos músicos da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais

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