NOTA DE DESAGRAVO
Em defesa do verdadeiro espírito do carnaval de BH. - Por ABRA.

Em defesa do verdadeiro espírito do Carnaval de Belo Horizonte, os 54 blocos de rua, representados pela Associação dos Blocos de Rua de Belo Horizonte (ABRA BH), manifestam veemente repúdio à iniciativa do prefeito em exercício, Álvaro Damião, de trazer atrações de renome nacional para o carnaval da capital mineira.
A proposta de realizar mega-shows – como o do Alok, Xamã, Olodum, entre outros – não só desvirtua a essência e a identidade do Carnaval de rua de BH, como também acarreta sérios riscos à segurança e à organização da festa. As experiências recentes demonstraram que tais eventos atraem confusão, aumentam a violência, colocam em risco a integridade física dos foliões, dificultam a mobilidade urbana e comprometem a tradição de uma festa que é, acima de tudo, democrática e popular.
É fundamental ressaltar que o Carnaval de Belo Horizonte foi construído, ao longo de mais de uma década, pelo trabalho incansável dos blocos de rua e dos artistas da cidade. São eles os verdadeiros responsáveis por transformar o Carnaval de BH em um dos maiores e mais autênticos do Brasil. Ignorar essa trajetória e priorizar espetáculos comerciais é desrespeitar a história e a luta daqueles que fizeram da ocupação livre e espontânea das ruas uma poderosa expressão cultural.
Enquanto mais de 500 blocos se cadastraram para participar do Carnaval de 2024, apenas cerca de 100 receberam algum tipo de apoio financeiro para viabilizar seus desfiles. Em contrapartida, megaeventos recebem tratamento privilegiado, com patrocínios robustos e apoio institucional, aprofundando a desigualdade no acesso a recursos. Essa disparidade evidencia uma política que favorece o entretenimento comercial em detrimento do fortalecimento dos blocos, que são o coração pulsante do Carnaval de Belo Horizonte em suas nove regionais.
Os blocos de rua enfrentam, ano após ano, dificuldades crescentes para realizar seus cortejos devido à falta de apoio financeiro e logístico. É inaceitável que recursos públicos e privados sejam canalizados de forma desproporcional para espetáculos comerciais, enquanto os blocos – que garantem um Carnaval gratuito, plural e acessível a todos – lutam para existir e resistir. Além disso, o repasse de verbas, concedido por meio de aditivo, não foi totalmente concluído, deixando muitos blocos e fornecedores do Carnaval numa situação delicada.
Nosso Carnaval é, antes de tudo, uma manifestação de resistência. Ele nasce da ocupação democrática dos espaços públicos e da celebração da diversidade cultural. Não podemos permitir que a mercantilização e a espetacularização se sobreponham à história e ao protagonismo dos blocos, que há anos constroem, com esforço e dedicação, um Carnaval autêntico e popular.
Exigimos isonomia no tratamento dado aos blocos de rua em relação aos megaeventos, bem como o reconhecimento efetivo do valor cultural, social e econômico dos blocos que fazem do Carnaval de Belo Horizonte uma referência nacional. É preciso garantir políticas públicas que respeitem e fortaleçam a diversidade das manifestações populares e assegurem condições justas para todos os que fazem essa festa acontecer.
Conclamamos a sociedade civil, os foliões e todos aqueles que acreditam na força do Carnaval de rua a se posicionarem contra a mercantilização e a descaracterização da nossa festa. Seguiremos firmes na defesa de um Carnaval que respeite as manifestações populares e mantenha viva a tradição da ocupação livre e espontânea das ruas de Belo Horizonte.
Associação dos Blocos de Rua de Belo Horizonte (ABRA BH)